Estamos sempre ouvindo falar em amar ao próximo, em
ser bom, fazer o bem sem olhar a quem...
Fico pensando se estamos entendendo de forma correta o
que nos é ensinado no decorrer da vida.
Por causa de interpretações equivocadas muita gente
tem sofrido e muitas hão de sofrer.
Há uma forte tendência em achar que ser bom e ser bobo
são as mesmas coisas.
Vocês já repararam que existem inúmeras pessoas que
passam a vida toda cuidando dos outros e esquecendo-se de si mesmas?
Não estou falando daquelas que escolhem o voluntariado
como rota. Mesmo nessas condições se observarmos algumas delas vamos verificar
que possuem um histórico de tristezas e que foram levadas pela dor a cuidar de
outros. Mas sei que isso não é regra e não é sobre essas pessoas - que parecem
felizes com o que fazem - de quem eu quero falar.
Quero falar daqueles que passam a vida sendo vítimas
de suas culpas, de seus medos e crenças. Aquelas pessoas que aprenderam que
para ser aceito é necessário fazer tudo que está ao seu alcance e além para
agradar o outro.
Podem observar, tem gente que mesmo sendo traído,
magoado, vilipendiado continua ali, como se nada tivesse acontecido.
Normalmente são pessoas que vivem em constantes altos
e baixos. Por quê? Porque quando conseguem se levantar, alguém se aproxima pedindo
ajuda e, pronto: lá vai ele de novo. Até que ponto essa ajuda é bondade?
Aqui temos que fazer um aparte. Realmente o cidadão
quer ajudar, mas também existe embutida nessa ajuda a culpa por estar bem
enquanto tantos padecem, ou coisa do tipo: eu não quero que passe pelo que
passei. E quando abre os olhos já se deu mal novamente.
Conhece alguém assim? Qualquer semelhança é mera
coincidência...
Geralmente são indivíduos fracos, que estão sempre
ajudando alguém pra não ter que pensar em seus próprios problemas. Até porque na
maioria das vezes se acham pouco merecedores de sucesso.
Também é necessário entender que a ajuda prestada não
é totalmente desinteressada. Quando ele está na pior, e sempre termina na pior,
espera que o outro venha em seu socorro. Qual não é a sua frustração, o seu
sofrimento quando descobre que isso não acontece, ou pior, isso não vai
acontecer de jeito nenhum.
Ele se enreda na angustia, na desesperança e perde o
controle de vez.
É aí que entram as frases que eu citei no início do
texto.
Ser bom ou bonzinho se transformou em obrigação, mas
não se questiona o verdadeiro sentido da palavra.
Fui procurar o significado da palavra BOM no
dicionário Aulete digital. Achei:
1.
Que tende a uma atitude propícia, favorável na
relação com os outros seres; bondoso; generoso; magnânimo; benévolo, solidário.
. (uma boa ação, um bom coração)
2.
Que (coisa ou ser ou circunstância)
corresponde, em quantidade ou em qualidade, às necessidades, à expectativa, ao
que se tem como adequado e satisfatório para tarefa, função, funcionamento,
atendimento etc.
3.
Que demonstra
afabilidade, civilidade, que revela eficiência, que cumpre seu dever;
4.
Que tem validade, autenticidade; que se curou;
5.
Coisa agradável, prazerosa. Que agrada pelo
sabor, que é agradável ao paladar; saboroso; gostoso.
6.
De condições favoráveis; aprazível; agradável;
7.
Pessoa de valor em seu ofício ou profissão, que
é competente numa dada atividade.
Para a palavra BEM, encontramos:
1.
De modo bom e
conveniente;
2.
Sem falhas, com
acerto, em alto nível de qualidade;
3.
Com saúde,
bem-estar;
4.
Com nitidez,
distintamente;
5.
Com comodidade;
à vontade;
6.
De forma
correta, justa.
Como podemos notar, ser bom significa ter uma atitude
empática, favorável e de solidariedade,
na relação saudável com outros seres. É bom aquele que corresponde com qualidade
às necessidades e expectativas, aquele que se tem como adequado e satisfatório para
uma situação.
O dicionário fala ainda que essa relação ou
circunstância deve ser agradável, prazerosa, ou seja, ser bom não pode ser algo
que nos traga sofrimento. Quando fazemos uma ligação com a palavra bem, o
sentido fica ainda mais claro.
Ser bom é fazer o bem, logo, ser bom é fazer com
qualidade aquilo para o qual estamos preparados e de forma correta e justa. É
algo que, decididamente, nos deixa cômodos, à vontade conosco e com o outro.
Verificando a relação doentia que alguns indivíduos
mantêm por medo, culpa, baixa autoestima ou simplesmente incapacidade de dizer
não, vamos perceber que não há de fato uma relação de alto nível. O que ocorre
é uma ânsia de agradar de um lado e um comodismo ou aproveitamento do outro.
Não estamos aqui para julgar essa ou aquela conduta,
mas é sempre bom entender o que geralmente ocorre até como uma forma de
enxergar nossas próprias atitudes diante de determinadas situações que se
repetem de tempos em tempos. A religião nos passa a ideia de Bondade ligada ao
sacrifício, a Sociedade exige da bondade submissão. Para família o bom é
bonzinho e para os amigos, camarada, irmão, chegado...
E para o indivíduo em questão? Boa pergunta. Cada um
se sente de acordo com suas próprias angústias, o certo é que cansa.
E você, o que diz?
3 comentários:
Oi Isabel,
Tudo bem? Penso que nessa questão não podemos nos vitimizar, mas também é preciso manter a lucidez de que o mundo é coletivo, mas não exige que o outro se crucifique. Enfim, há baixa estima também e a necessidade de não se posicionar, além do corpo de dor que alguns procuram.
Muito boa a reflexão!
Oi, Luciana. Que bom te ver por aqui.
Muito obrigada por vir trazer brilho ao meu texto com seus comentários, sempre tão inteligentes e coerentes.
Vejamos, eu concordo com quase tudo que você disse, menos com o fato de não ser exigido que o outro se crucifique. Se assim fosse não existiria tanta gente procurando ajuda psicológica. Eu concordo que a autoestima é primordial, porém a exigencia externa é feroz e coibe os mais frágeis de se erguer. Existem muitas formas de crucificação: a supervalorização da beleza e a exigencia de qualificação profissional/pessoal cada vez mais elevada são só algumas delas.
Adorei sua visita. Beijos
Obrigada, Antonio, pela visita e pelas palavras de incentivo. Fui conhecer o seu blog "Peregrino e Servo" e gostei muito. Estou te seguindo por lá.
Abraços
Postar um comentário