"...Verdadeiramente,
aquele que olha o espelho da água vê em primeiro lugar sua própria imagem. Quem
caminha em direção a si mesmo corre o risco
do encontro consigo mesmo. O espelho não lisonjeia, mostrando fielmente o que quer que nele se olhe; ou seja, aquela face que nunca mostramos
ao mundo, porque a encobrimos com 'A persona', a máscara do ator. Mas
o espelho está por detrás da máscara e mostra a face verdadeira.
Esta é a
primeira prova de coragem no caminho interior, uma prova que basta para
afugentar a maioria, pois o encontro consigo mesmo pertence
às coisas desagradáveis que evitamos, enquanto pudermos projetar o negativo à nossa volta. Se
formos capazes de ver nossa própria sombra, e suportá-la, sabendo que existe,
só teríamos resolvido uma pequena parte do problema".
(C.G. Jung - Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo)
(C.G. Jung - Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo)
Eu
sei que não é fácil. Simplesmente não se pode, de uma hora para outra, admitir
aquilo que somos. É preciso coragem!
Não
ser perfeito, não ser o mais belo, não ser um gênio em qualquer área da vida...
Não ser cem por cento aceito pela maioria se torna uma dor, um sofrimento. Criamos
em nós uma rigidez absurda que tolda nossa visão do real e passamos a viver de anseios
irrealizáveis, criticando, nos outros, o que não aceitamos em nós.
Desejamos
sempre aquilo que está distante, como se a felicidade pudesse ali estar; como
se toda a nossa existência dependesse dessa conquista. Mas esse é um desejo sem
medida, que não se aplaca, pois, alcançando o objeto de cobiça voltamos a
atenção para outra direção.
É
de nossa natureza não se satisfazer, viver nessa eterna insatisfação que ao
mesmo tempo nos impulsiona e nos angustia.
É
de nossa natureza o medo do fim, do nada, da perda. Queremos acumular para não
faltar: acumular bens materiais e dons espirituais. Queremos a aceitação e o
reconhecimento para nos confirmar como seres existentes. É a falta e não a
presença que movimenta a roda da vida. Na incessante busca pela completude
percebemos nossa fragilidade e criamos as máscaras que nos ajudarão a enfrentar
os desafios, e as atarraxamos tão fortemente que perdemos a noção do Eu, ligados que estamos na presença do
outro. Desconhecemos nossa essência, nossos valores. Perdemo-nos no automatismo,
na inflexibilidade e no despotismo que mantém submissos nossos sonhos e
ilusões.
Realmente
não nos conhecemos, vivemos como estranhos que não se respeitam. Quebramos as
regras da autoestima, criando imagens distorcidas, fragilizadas e carentes.
Enclausuramos
nossa criatividade na vontade do outro, adotamos suas crenças limitantes como
sendo nossas e deixamos de ser felizes por temermos rasgar os véus interiores e
espantar os fantasmas que nos mantêm cativos.
Descobrir-se
é um rito de coragem, necessário, importante. Descobrir-se pode ser um doloroso
ato de crescimento, mas sempre um voo para a liberdade. É a expansão da alma, a
descoberta de ser alguém, único, com caminhos e desempenhos próprios. Dono e
responsável por seu próprio destino.
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