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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Por que desisto?


Essa é uma questão que surge com muita freqüência no meu consultório e em conversas com amigos.
Todos querem saber por que não conseguem levar adiante planos e ações. Começam e param no meio do caminho ou simplesmente fogem de qualquer tentativa.
Infelizmente não há uma resposta única. Cada caso é um universo, uma história diferente. Existem muitos motivos, mas basicamente todos possuem um mesmo agravante: o medo de se expor, de colocar em xeque suas dificuldades interiores.
Há os que temem críticas e julgamentos; os que fogem de confrontar suas dificuldades; os que não acreditam na própria capacidade e os que têm medo de competir. Existem aqueles que não querem subir por medo de cair, os que acreditam não ser merecedores e os que precisam continuar como vítimas.
Como podemos notar, os motivos são os mais variados, mas o medo é sempre a constante.
Uma boa dose de medo é necessária para garantir a sobrevivência, porém algumas vezes ele extrapola e passa a tolher, a limitar as nossas ações, tornando-se irracional e ceifando nossas idéias e ideais.
Eu disse algumas vezes, mas na verdade esse tipo de medo é mais comum do que se imagina.
Quem já não desejou que algo importante não acontecesse para não ter que se expor?
Vejamos: estamos desempregados há mais de um ano. Depois de várias tentativas nos damos por vencidos e passamos a crer que não temos talento para coisa alguma.
De repente um amigo nos procura com uma oferta de emprego. Entramos em contato, com o coração apertado, com muito medo de não conseguirmos. Depois de todos os testes e entrevistas somos contratados e iniciaremos dentro de três dias. Ficamos em cólicas. Nossos pensamentos giram em torno de todos os percalços que poderão nos fazer perder a vaga.
Pensamos que o relógio não vai despertar e chegaremos atrasados no primeiro dia, que o carro vai quebrar, que faremos tudo errado... enfim, só pensamentos negativos.
Por quê? Porque ficamos com medo de que dê certo. Um paradoxo, eu sei. Mas é assim que muitos de nós vivenciamos as oportunidades. Com medo.
Diante desse inimigo que nós mesmos alimentamos, procuramos um lugar seguro dentro do anonimato, da perda, da desistência.
Eu quero fazer análise, mas não consigo continuar, me dá preguiça, não consigo ver melhora. Na segunda ou terceira consulta? É preguiça ou medo de mudar?
O que implicaria essa mudança? O que implicaria continuar um determinado projeto?
São perguntas que devemos nos fazer quando a vontade de parar, de desistir nos invade.
Não me refiro àquela situação em que o indivíduo tenta por anos a fio realizar uma tarefa sem conseguir. É claro que nesse caso se faz necessário uma avaliação de objetivos. Questionar-se quanto a real importância daquilo que se vem tentando fazer.
O problema é quando vamos deixando para amanhã, postergando nossos sonhos por medo de não conseguir levá-lo adiante ou por não saber como agir diante do sucesso.
Conheço pessoas que não conseguem ser promovidas na empresa em que trabalham simplesmente porque se escondem, não permitem ser notadas. Acreditam realmente que se permanecerem na mesma função jamais serão despedidas, todavia a idéia de promoção traz também o receio de não se sair bem e ser dispensado. Para não arriscar-se aposenta na mesma função em que começou a trabalhar.
Geralmente essas pessoas são amargas, pessimistas, invejosas.
O medo e a inveja estão sempre muito próximos. É verdade! Quando não conseguimos atravessar uma ponte pênsil por causa do medo de altura, ficamos do lado de cá invejando quem está do outro lado e por vezes o criticamos por não ter ficado conosco. Não avançamos e queremos reter o outro, o que nos leva a entender que além de inveja o medo irracional causa também o egoísmo.
Isso não nos torna monstros terríveis, não somos um perigo social porque o mal que fazemos atinge mais a nós mesmos, nos sufoca e impede o nosso crescimento pessoal.
Inventamos mil desculpas para não continuar, criamos empecilhos e se somos obrigados a ir até o fim, ficamos torcendo para que algo dê errado e confirme nossas previsões.
Querem um exemplo? João (nome fictício) queria montar seu próprio negócio, uma loja de artigos esportivos. Trabalhou no ramo durante anos sem coragem para realizar o seu sonho. Com a reciclagem de funcionários, perdeu o emprego e pensou na possibilidade de por seu projeto em prática. Os dias passavam sem que João fizesse alguma coisa. Tinha sempre uma desculpa pronta, argumentava bem e nada de começar. Pensava consigo mesmo: "E se eu gastar meu último dinheirinho num negócio que nem sei se vai dar certo? Vou esperar mais um pouco..."
A esposa dele resolveu intervir e acelerar o processo. João não teve saída, montou a loja e todos os dias ao abri-la pensava que poderia não ter clientes, que poderia ser assaltado, que uma crise no comércio poderia levá-lo a banca rota. Em parte seus pensamentos iam se tornando realidade. Realmente a loja vivia vazia, ninguém entrava para comprar. Os preços e os artigos eram bons, mas João tinha um inimigo: o dono da loja. Aquele camarada que ficava sentado atrás do balcão com um semblante desanimado, que atendia os raros clientes com impaciência. No fundo ele não queria que o cliente aparecesse, não queria que a loja rendesse lucros. Abria a loja olhando o relógio e contando as horas que faltavam para o encerramento das atividades. Ele tinha medo!
Medo de ser bem sucedido, de perder depois, de ficar exposto ao olhar do outro. Assim como o João, nós também nos boicotamos em diversos momentos de nossas vidas.
Rezamos para aquele rapaz bonito que ficamos meses paquerando não aparecer ao encontro porque não saberíamos o que fazer depois, medo da concorrência.
Tem ainda o caso daquele funcionário que, sabendo que o chefe estava de olho nele para uma possível mudança de setor, com maior notoriedade e salário mais alto, ele passa a faltar, a fazer um trabalho medíocre, a ir ao banheiro cada vez que o chefe entra na sala. Não dá ao superior oportunidade de lhe falar. Quer a mudança, só não pode evitar o medo.
É pelo medo que desistimos de vencer, conquistar, alcançar, abraçar, amar...
E você, conhece alguém assim?

7 comentários:

Rosana Madjarof disse...

Isabel,

Parabéns belo excelente texto.

Em poucas palavras, poderia dizer que o seu texto retrata o medo do novo.

O medo do novo assusta muita gente, e muitas pessoas precisam trabalhar esse medo.

Adorei!

Bjs.

Rosana.

Isabel Ruiz, disse...

Amiga Rosana, que alegria tê-la aqui.
Realmente, as pessoas temem o novo, o desconhecido. Temem aquilo que foge do seu controle.
Obrigada pelo seu comentário.
Beijos
Bel

Principe Encantado disse...

Muitas vezes o desconhecido nos faz recuar, por puro medo humano, mais ele na verdade nos leva as grandes realizações.
Abraços forte

Leila Franca disse...

Oi Bel,

Sim, existe isso da pessoa se boicotar, de temer o sucesso e de ficar em evidência. Por isso muitos preferem se manter em sua zona de conforto, onde não precisam se expor ou dar mais de si. No entanto acho que há aí também uma outra coisa: a dificuldade de manter o foco. As pessoas tendem a ser imediatistas, querem que tudo aconteça logo, que tudo seja feito em um dia e não é assim que funciona. Qualquer coisa que valha a pena tem que ser trabalhada pouco a pouco e então as pessoas perdem este foco inicial e acabam deixando pra lá.

JORNALISMO ANTENADO disse...

Nossa isabel estou aqui extasiada diante desse texto. Tem pouco o que comentar de tão completo que ficou. Concordo com a Rosana, de tudo que disse fica basicamente uma situação chave: o medo do novo, o medo de mudar.
Conheço muitas pessoas que são exatos retratos das que descreveu ali... que não fazem e tentam impedir os outros de fazerem.
Claro,ser impulssivo demias tambem não é a saída para anda na vida, mais deixar de fazer as coisas, de viver por causa do medo do que poderá acontecer, das consequências depois, isso nunca achei certo não. Uma vez escutei de uma ex patroa assiM:Sabia que você é a única aqui an loja que não tem emedo de mim? Respondi simplesmente: E porque eu teria? Você não é melhor que eu, aenas é minha patroa, nem por isso estará sempre certa. Sabe de uma coisa, ela me respeitava muito, porque sabia que pro bem ou pro mal o que eu falava era verdadeiro.

Excelente post minha amiga, parabéns.Realmente somos nossos piores inimigos.
BEijos..
Márcia Canêdo

João Poeta disse...

Ahahaha!
Eu me chamo JOÃO, e toda vez que estiver que iniciar um projeto novo, vou lembrar dessa matéria.
Obrigado por me permitir aprender com você.
Abraços
João

Isabel Ruiz, disse...

Olá, João.
Eu sempre usei nomes diferentes,como por ex. Petronílio, em meus artigos e/ou palestras pra não correr esse risco. Mas um dia, depois de uma palestra, uma pessoa veio me procurar dizendo que eu fiz o texto pra ela, porque até o nome eu acertei. kkkkkkkkkkkkkkkkkk Ai eu percebi que não adiantava fugir, agora sempre digo/escrevo que o nome é ficticio. Ainda bem que você tem senso de humor.
Obrigada meu querido amigo pela participação. Você é daqueles poetas que não têm medo de ousar.
Beijo grande
Bel