Depois de
ler uma reportagem a respeito de uma senhora de 61 anos que faleceu de inanição,
fiquei pensando na crueldade em deixar uma pessoa morrer de fome, de não ter havido
mãos acolhedoras em direção a ela antes que fosse tarde.
O fato é
que, quando se fala em fome pensamos logo em alimento: arroz, feijão, carne,
legumes... Pensamos no que a falta desses produtos produzem no organismo, e nos
esquecemos de que, aliada a essa carência, está outro tipo de fome, que diz
respeito ao emocional, elemento vital para a sustentação do indivíduo como ser
vivo. Eu falo da necessidade premente de carinho, de atenção. Falo da fome de
afeto.
Ali,
deitada no chão frio de um quartinho sujo, havia um ser humano passando por
dois tipos de privação. Um ser humano em situação de penúria física e
emocional. Essa, infelizmente, é a
realidade de muita gente.
A falta de
alimento se nota no físico, de imediato. Mas existem faltas em que o corpo não
apresenta debilidade, pelo menos é preciso atenção para que se note alguma
alteração, que acontece devagar, ao longo do tempo, mas mesmo em um organismo
bem nutrido, a falta do alimento afeto poderá causar um dano irremediável.
É uma
inanição que ninguém pode ver, qualificada por vezes como sendo uma
infantilidade ou “frescura”. Fico pensando que a falta desse alimento tão
importante também pode ser considerada causa
mortis entre jovens e adultos.
Por isso é
fácil verificar pessoas que saem da casa dos pais, da cidade ou do país,
passarem por momentos de desorientação e angústia. É a falta de afeto que nos
leva, algumas vezes, a buscar aceitação em grupos que nem sempre possuem algo
em comum conosco.
É a falta
de afeto que nos torna bruscos e arrogantes...
Uma criança
que cresce sem afeto se torna um adulto seco, que não possui empatia com a dor
do outro.
O mundo
atual está tão preso ao consumismo exagerado, às noticias imediatistas e passageiras
e pouco preocupado com a saúde emocional. O homem ainda não aprendeu a amar e a
ser afetuoso com o outro e principalmente consigo mesmo, uma das consequências
do desenvolvimento desenfreado de atividades que não exigem interação. O uso
abusivo do celular, com privação de convívio humano, é um exemplo dessa forma
solitária e sem afeto, de viver.