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domingo, 8 de janeiro de 2017

O tempo não para

E de repente uma sensação de imenso vazio, e uma tristeza tão grande que parece não ter fim. De repente a vida parece curta, invivida. De repente...

Eu não sei em que ponto o caminho se perdeu, em que parte a história se rompeu. Só sei que acordei assim, achando que o cristal se quebrou e o brilho que luzia e me enfeitiçava já não existe mais.
Assim, sem mais nem porquês, apenas de repente.
Ainda ontem pensava que havia tempo para tudo, que o mundo não girava tão depressa e eu podia controlar as horas, os minutos... os segundos.
Mas acordei e vi que já não há tanto tempo, que as horas não parecem ter sessenta minutos, mas sessenta segundos, e que os milésimos de segundo são partes da minha imaginação.
Quem poderia afirmar que o curso da vida seria tão veloz? Como, se ainda ontem eu tinha apenas vinte anos?
Se eu fechar os olhos e voltar a dormir poderei voltar no tempo ou descobrir que tudo não passou de um sonho? Que aquelas horas mortas de tédio ou inércia não existiram e nem ao menos influíram para esse vazio que agora me consome?
Perguntas...
O tempo consome as respostas quando as perguntas são lentas. O tempo consome as perguntas quando se tem as respostas.
O tempo não cria, o tempo não dispõe. Ele apenas observa.
O tempo não chora nossas perdas, não sorri de nossas alegrias. Ele apenas observa e passa.
E passa inexoravelmente. Não adianta suplicar. Ele não para pra você descer, ele não dá “pause”, ele não se importa se você não o acompanha.
Mas o tempo não é mau. O tempo sabe ser bom.
O tempo não te prende no infortúnio, ele não te aprisiona no passado.
Ele ajuda a esquecer das dores, dos conflitos...
Ele auxilia passando, voando. E de repente já não temos mais vinte anos. E de repente acordo com essa vontade de voltar atrás, só um pouquinho.
E percebo que o vazio não é do tempo, mas de mim. Que apesar do tempo transcorrido eu não transcorri. Permaneci naquele ponto distante, onde nem me lembro mais.
Aquelas horas mortas existiram e me roubaram o tempo. Não o tempo do mundo, mas o que me habita e que eu sabotei.
Essa é a tristeza da alma e que demora traduzir. Quanto tempo ainda me resta? Quantas horas tenho pra ser feliz?
Olho o relógio na parede, os ponteiros passando, dia após dia, pelos mesmos lugares... Que desventura, que rotina sem sentido. Mas ele representa o tempo, enquanto está vivo não para. Observo a pequena bateria que o mantém vivo e penso na bateria que me move, na rotina do relógio que passa pelos mesmos lugares sem se deter em nenhum.
E de repente a sensação de vazio se perde no tic tac das horas e a tristeza dá lugar à reflexão.
A vida é curta, mas precisa ser vivida. Não importa mais em que ponto o caminho se perdeu ou a história se rompeu, porque aos vinte, aos trinta ou aos oitenta, passando pelos mesmos lugares posso fazer uma história diferente. Não preciso me deter num minuto, posso transpor cada segundo como se fosse o último e me surpreender com o tempo que passou. O cristal da vida brilha através de mim e não do tempo. Posso recompor o prisma, posso reconstruir meu tempo interior e ressignificar minhas prioridades.
Compreendo o sentido da palavra passado e espanto os fantasmas dos tempos idos. Deixo de lamentar o que não foi feito, não há mais tempo para arrependimentos. Não importa se tenho um, dez ou vinte anos mais. Assumo que meu tempo não se mede por dias, ele é feito de segundos e estes, eu os tenho de sobra.