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sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Afeto a Fonte da Vida

Depois de ler uma reportagem a respeito de uma senhora de 61 anos que faleceu de inanição, fiquei pensando na crueldade em deixar uma pessoa morrer de fome, de não ter havido mãos acolhedoras em direção a ela antes que fosse tarde.
O fato é que, quando se fala em fome pensamos logo em alimento: arroz, feijão, carne, legumes... Pensamos no que a falta desses produtos produzem no organismo, e nos esquecemos de que, aliada a essa carência, está outro tipo de fome, que diz respeito ao emocional, elemento vital para a sustentação do indivíduo como ser vivo. Eu falo da necessidade premente de carinho, de atenção. Falo da fome de afeto.

Ali, deitada no chão frio de um quartinho sujo, havia um ser humano passando por dois tipos de privação. Um ser humano em situação de penúria física e emocional.  Essa, infelizmente, é a realidade de muita gente.
A falta de alimento se nota no físico, de imediato. Mas existem faltas em que o corpo não apresenta debilidade, pelo menos é preciso atenção para que se note alguma alteração, que acontece devagar, ao longo do tempo, mas mesmo em um organismo bem nutrido, a falta do alimento afeto poderá causar um dano irremediável.
É uma inanição que ninguém pode ver, qualificada por vezes como sendo uma infantilidade ou “frescura”. Fico pensando que a falta desse alimento tão importante também pode ser considerada causa mortis entre jovens e adultos.
Por isso é fácil verificar pessoas que saem da casa dos pais, da cidade ou do país, passarem por momentos de desorientação e angústia. É a falta de afeto que nos leva, algumas vezes, a buscar aceitação em grupos que nem sempre possuem algo em comum conosco.
É a falta de afeto que nos torna bruscos e arrogantes...
Uma criança que cresce sem afeto se torna um adulto seco, que não possui empatia com a dor do outro.

O mundo atual está tão preso ao consumismo exagerado, às noticias imediatistas e passageiras e pouco preocupado com a saúde emocional. O homem ainda não aprendeu a amar e a ser afetuoso com o outro e principalmente consigo mesmo, uma das consequências do desenvolvimento desenfreado de atividades que não exigem interação. O uso abusivo do celular, com privação de convívio humano, é um exemplo dessa forma solitária e sem afeto, de viver. 

sábado, 2 de setembro de 2017

Tempos Idos e Atuais



Houve um tempo em que a palavra valia mais que qualquer assinatura, e um fio de bigode tinha valor de confiança.
Não que eu queira reviver o passado transbordando um saudosismo piegas, mas pela ordem natural das coisas o que sempre foi bom e justo deveria assim permanecer. Porém, de repente o progresso fornece munição aos maus e tira das mãos dos bons as armas que os protegem.
De repente... Tão de repente que ninguém se deu conta da transformação, houve uma época em que ser esperto era algo natural, tão próprio do ser humano. E a política do “levar vantagem” foi se espalhando em silêncio, sorrateiramente, incorporando-se nas casas, nas empresas, na sociedade, entre os jovens, na família... O filho pra respeitar e obedecer ao pai passou a ter que ganhar algo em troca: um celular, um carro, um computador... O empregado não se sente mais envergonhado em abastecer sua casa com os materiais de escritório da empresa, o aluno barganha nota usando a influência dos pais – boa ou má. Um jeitinho aqui, um pagamento ali... Para ser político já não precisa entender de política, basta pegar uma criancinha no colo, apertar a mão do pai e prometer uma “ajudazinha” aqui e acolá. Para dirigir um Estado ou um País, precisa mais que nunca fechar conchavos, pactuar com “o diabo” e esquecer as leis que ele próprio atribuiu a um Deus, a esse mesmo Deus a quem ele passou a utilizar para conquistar almas para o seu rebanho sem consciência.
Aliás, a palavra consciência continuou sendo tão duramente utilizada para castrar e amordaçar, mas deixou de existir tanto quanto voz moral quanto lugar seguro da realidade. O prazer foi dominado pelo poder e instigado por uma organização chamada mídia, que explode, a todo instante, bombas de imagens, tão rápidas e sugestivas que faz o indivíduo achar que sua vontade ainda lhe pertence, embora faça tudo que seu mestre mandar. 
As crianças, de repente, não mais que de repente se tornaram miniaturas de adultos, e estes, desnorteados pela invasão de informações contraditórias, se transformaram em depósito de lixo auditivo e visual.
E chegou o tempo da colheita... E hoje o bom tempo ficou ocioso e o mau tempo sobrecarregado de injustiças sociais, de intolerância e desordem. Respeito não é mais palavra de ordem, empatia uma via de mão única, amor ao próximo ficou obsoleto e cada um acredita que sua verdade é a que vale sobre as demais.
Chegou o tempo da colheita... Os campos emocionais estão repletos de tristezas, de ódios e plantações inteiras de síndromes e complexos. Nunca se tomou tantos medicamentos para dores existenciais e essas dores nunca foram tão perturbadoras.
Nos dias de hoje o que vale é não sofrer, é enganar o cérebro com remédios que dão a ilusão de que a felicidade existe e se esconde nas pequeninas cápsulas, muitas vezes sem receita, indicadas por pseudomédicos, formados nas escolas da transgressão. E essas cápsulas mágicas fazem o tempo parecer alado, voando rápido de um extremo a outro da consciência e ninguém mais se entende no olho no olho. Mas para que se podemos nos entender nas redes, não aquelas que balançam ao sabor do tempo, mas aquela rede intrincada e perigosa onde todo mundo é feliz e bondoso até que alguém diga: Culpado! Homo! Negro! Pobre, Riquinho... Palavras, só palavras, mas que carregam em si a amargura dos seres, o preconceito e a maldade dos que não aprenderam a sonhar, porque hoje em dia sonhar é para poucos, para quem ainda tem coragem de remar contra a maré, para quem, mesmo sem saber nadar, se atreve a atravessar o mar de lama e destruição moral que assola o novo tempo, que desperta o que há de pior no individuo fabricado por aquele tempo do jeitinho, onde tudo era permitido. 

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Você poderá gostar de ler também: A fragilidade humana


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domingo, 8 de janeiro de 2017

O tempo não para

E de repente uma sensação de imenso vazio, e uma tristeza tão grande que parece não ter fim. De repente a vida parece curta, invivida. De repente...

Eu não sei em que ponto o caminho se perdeu, em que parte a história se rompeu. Só sei que acordei assim, achando que o cristal se quebrou e o brilho que luzia e me enfeitiçava já não existe mais.
Assim, sem mais nem porquês, apenas de repente.
Ainda ontem pensava que havia tempo para tudo, que o mundo não girava tão depressa e eu podia controlar as horas, os minutos... os segundos.
Mas acordei e vi que já não há tanto tempo, que as horas não parecem ter sessenta minutos, mas sessenta segundos, e que os milésimos de segundo são partes da minha imaginação.
Quem poderia afirmar que o curso da vida seria tão veloz? Como, se ainda ontem eu tinha apenas vinte anos?
Se eu fechar os olhos e voltar a dormir poderei voltar no tempo ou descobrir que tudo não passou de um sonho? Que aquelas horas mortas de tédio ou inércia não existiram e nem ao menos influíram para esse vazio que agora me consome?
Perguntas...
O tempo consome as respostas quando as perguntas são lentas. O tempo consome as perguntas quando se tem as respostas.
O tempo não cria, o tempo não dispõe. Ele apenas observa.
O tempo não chora nossas perdas, não sorri de nossas alegrias. Ele apenas observa e passa.
E passa inexoravelmente. Não adianta suplicar. Ele não para pra você descer, ele não dá “pause”, ele não se importa se você não o acompanha.
Mas o tempo não é mau. O tempo sabe ser bom.
O tempo não te prende no infortúnio, ele não te aprisiona no passado.
Ele ajuda a esquecer das dores, dos conflitos...
Ele auxilia passando, voando. E de repente já não temos mais vinte anos. E de repente acordo com essa vontade de voltar atrás, só um pouquinho.
E percebo que o vazio não é do tempo, mas de mim. Que apesar do tempo transcorrido eu não transcorri. Permaneci naquele ponto distante, onde nem me lembro mais.
Aquelas horas mortas existiram e me roubaram o tempo. Não o tempo do mundo, mas o que me habita e que eu sabotei.
Essa é a tristeza da alma e que demora traduzir. Quanto tempo ainda me resta? Quantas horas tenho pra ser feliz?
Olho o relógio na parede, os ponteiros passando, dia após dia, pelos mesmos lugares... Que desventura, que rotina sem sentido. Mas ele representa o tempo, enquanto está vivo não para. Observo a pequena bateria que o mantém vivo e penso na bateria que me move, na rotina do relógio que passa pelos mesmos lugares sem se deter em nenhum.
E de repente a sensação de vazio se perde no tic tac das horas e a tristeza dá lugar à reflexão.
A vida é curta, mas precisa ser vivida. Não importa mais em que ponto o caminho se perdeu ou a história se rompeu, porque aos vinte, aos trinta ou aos oitenta, passando pelos mesmos lugares posso fazer uma história diferente. Não preciso me deter num minuto, posso transpor cada segundo como se fosse o último e me surpreender com o tempo que passou. O cristal da vida brilha através de mim e não do tempo. Posso recompor o prisma, posso reconstruir meu tempo interior e ressignificar minhas prioridades.
Compreendo o sentido da palavra passado e espanto os fantasmas dos tempos idos. Deixo de lamentar o que não foi feito, não há mais tempo para arrependimentos. Não importa se tenho um, dez ou vinte anos mais. Assumo que meu tempo não se mede por dias, ele é feito de segundos e estes, eu os tenho de sobra.