Olá

Bem-vindo a este blog, fico muito feliz com a sua visita. Receber amigos é algo que nos estimula e realiza.


sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A perda e a dor inevitável.


O ano de 2010 começou em meio a muita chuva, tragédias pelo mundo e, diante disso tudo, eu comecei a pensar na perda.
A coisa que mais incomoda o ser humano é esse sentimento de perda. É o que lhe provoca medo, angústia, solidão, desamparo.
Tanto no consultório quanto no trabalho comunitário sempre ouvi as mesmas queixas: “parece que há um buraco em meu peito, um vazio...”
Hoje, enquanto assistia  a reportagem sobre os deslizamentos, as chuvas em São Paulo e o terremoto no Haiti, não pude deixar de sentir também esse vazio.
Não é à toa que buscamos viver em grupos, que procuramos a companhia daqueles com quem nos identificamos, numa tentativa de aplacar essa falta.
Vivemos com a única certeza de que vamos morrer, de que somos finitos. Não quero entrar no aspecto religioso, não é esse o objetivo. Pretendo falar do aqui e agora, dessa dor que o homem sente, porque somente ele tem a consciência do fim.
No âmbito familiar somos cuidados e cuidadores. Queremos a família reunida, o lar seguro. Preocupamos-nos dia após dia com as saídas, as chegadas, o alimento à mesa, a roupa, o calçado... Queremos segurança!
No campo profissional, buscamos a certeza de que não ficaremos  à margem, que teremos sucesso, trabalho garantido. Esforçamos-nos por uma promoção, um aumento salarial e estabilidade. Na verdade, queremos segurança!
Vivendo em sociedade, nos aproximamos uns dos outros, seguimos e impomos regras. Criamos comunidades, grupos afins para que tenhamos segurança.
É ela, a segurança, que nos dá a sensação de que o vazio no peito está sendo preenchido. Buscamos fora de nós os motivos para aplacar o medo e a angústia. Todo o nosso mundo interno é regido por essas leis, esses encontros e desencontros.
Dentro dessa nossa limitação, procurando perpetuar a nossa existência, criamos filhos, estreitamos laços, tiramos fotos para a eternidade e filmamos nossos momentos mágicos, guardando imagens e movimentos.
De repente, num átimo, nosso mundo para.
Estanque, nos inunda de emoções, revela nossa fragilidade e nos arremete para o pior de nossos pesadelos: a perda. A perda do ente querido, desaparecido, machucado, engolido vivo. É a sensação de que a vida é sensível demais, curta demais.
São o céu e a terra, nossos limites, que nos acolhe e alimenta, abrindo sua boca, assoprando seu vento de morte e nos engolindo, nos despojando dos pertences, do que nos é mais querido.
E enterramos nossos iguais, procurando algo que possamos guardar, mas já não há imagem nem movimento, só  dor.  A dor da solidão, da insegurança.
Perde-se a identidade. Deixamos de ser um indivíduo para ser uma multidão. Rostos e máscaras misturadas, amarguradas, chorando o mesmo choro, gritando a mesma revolta e, ao mesmo tempo, solitário numa dor que parece ser a maior e a mais profunda de todas.
O mundo a salvo, assiste perplexo, não compreende.  Não entende que a mesma falta que abre uma cratera no peito do homem, também o leva a buscar companhia. Afasta-o de si e o arremete aos braços do outro, numa tentativa de se apoderar de uma segurança que, na ausência de tudo, ele ainda teme perder.

11 comentários:

Poesias disse...

Olá,

Perdem alguém que amamos é realmente um dor inevitável, tenho muito, muito medo de morrer, mas sobre tudo de que morram aqueles que eu amo!

Grande Abraço;
Lauro Daniel

Anônimo disse...

Bel, minha amiga, que assunto mais difícil esse! E como você descreveu bem nossa perplexidade e nossa angústia face a esses acontecimentos!

Nunca sei o que pensar sobre essas tragédias coletivas.

Confesso que até hoje não sei lidar com perdas emocionais. Quando meu pai morreu, toda a minha religiosidade, que deveria servir de apoio naquela hora, como que desapareceu. Simplesmente não aceitei.

Não queria saber se ele iria continuar sua jornanda em outro lugar. Queria ele comigo aqui. Mais que isso, não queria sentir aquele imenso vazio que estava sentindo. Meu egoísmo falou mais alto.

Tive uma briga terrível com Deus, fiquei um tempão sem falar com ele. Mais tarde, depois que o tempo aliviou, embora sem extinguir, a dor da perda, fiz as pazes com Ele.

Acho que não deveria existir dor. Para ninguém. Em lugar algum. Luto com todas as minhas forças, contra qualquer tipo de sofrimento, em qualquer lugar que eu o encontre, seja em mim, seja nos outros. Mas percebo que é uma luta desigual, mais perco do que ganho.

Sei racionalmente, que a dor é mestra e que deve haver um bom motivo para tantas mortes nestas catástofres naturais. Também sei que elas são consequência do uso indevido do nosso livre-arbítrio, quando agredimos a natureza ao invés de preservá-la, e ela se enfurece, com toda a razão.

Mas não posso ver tanto pranto, tanta perda, tanto sofrimento reunido em um só lugar, sem levantar a cabeça para os Céus e indagar:

- Isso é mesmo necessário? Não teria outra forma da gente aprender o que precisa ser aprendido?

Tudo me mostra que a resposta para a minha pergunta é: não. Neste momento, pelo menos, não tem outra maneira.

Então persiste a perplexidade, a angústia e para ser completamente sincera, uma certa revolta. Aí percebo claramente que ainda estou engatinhando na escala evolutiva.

Postagem excelente, dá muito o que pensar...

Bjs

Denize

Fernando Monção disse...

Comadre Bel e esse sentimento é tão arraigado em nós que diante de catástrofes é que medimos (infelizmente) o quanto e pequeno a MAIORIA DOS PROBLEMAS PELOS QUAIS DESCABELAMOS COTIDIANAMENTE...
Pois... nem que seja com o pior dos exemplos, convido à todos a repensarem seus valores, suas urgências, suas importâncias...
As perdas são inevitáveis sim... mas que pelo menos não tenhâmos perdido tempo com o que não importava ante as coisas realmente sublimes da vida, na hora em que formos chamados de volta ao Pai.
Forte abraço,
seu compadre,
Fernando.

Isabel Ruiz, disse...

É verdade, Lauro. Por mais que tenhamos o conhecimento das coisas, o medo da perda ainda nos atormenta. É lógico que conseguimos seguir em frente apesar dele, mas existem muitos que não conseguem e desenvolvem uma série de sindromes.
Obrigada por comentar.
Abraços
Bel

Isabel Ruiz, disse...

Nossa, Denize, que emoção ler o seu comentário. Você conseguiu captar com exatidão o que eu pretendi passar. É esse momento, essa fração do tempo em que não nos servem explicações. Como você e os amigos disseram, nós provocamos as tragédias com a nossa negligência com a natureza, nós temos a religião para nos sustentar, mas quando a perda se torna real, no momento maior da dor, só conseguimos olhar para o buraco em nosso peito e qualquer arrazoamento se torna impertinente. É a hora do nosso luto e é uma vivência que não podemos deixar de ter porque desse tempo depende o nosso equilíbrio emocional. Não é exatamente uma briga com Deus, mas um pedido de espera: "deixe, por favor, que eu sinta toda essa dor, que eu experiencie todo o meu sofrimento, a falta, até que possa rasgar essa couraça e me libertar da raiva, da frustração e da saudade que me aflige" - acho que é mais ou menos isso que a gente sente.
Obrigada pelo seu comentário, que trouxe brilho ao meu texto.
Beijos
Bel

Isabel Ruiz, disse...

Pois é compadre Fernando, o ser humano é uma caixinha de surpresas. As vezes tão forte e em outras tão frágil. E nessa fragilidade é que reside toda a sua insegurança, os seus medos, angústias...
Seria bom se todos pudessem ser fortes e felizes, mas basta olharmos em volta para perceber que existem aqueles que, movidos por interesses maiores (?) trabalham para minar a segurança de uma maioria que desconhece seu potencial. Sofremos por valores que nos são inculcados sem que tenhamos consciência disso. Algo que só pode ser alterado com autoconhecimento e elevação da autoestima.
Obrigada, compadre, por seu comentário, muito valoroso. Você já faz parte desse movimento de conscientização com o seu projeto Livro sem Fronteiras.
Desculpe a resposta longa.
Beijos
Bel

jotapeh9907 disse...

Realmente a dor da perca é algo indescritível. Tragédias são inevitáveis. Somente Deus poderá nos confortar

Isabel Ruiz, disse...

Obrigada pela participaçao amigo jotapeh.
Abraços
Bel

Valéria Mello disse...

Bel,

A solidão provocada pela perda de alguém é o maior castigo para o homem.

Provoca vazios imensos e irreparáveis aos quais desconhecemos o objetivo. Por que nos é nato, buscar e encontrar respostas e, para estas não há.

Apenas os sentimentos de dor, mágoa, desamparo, abandono. Foi o que senti quando meus pais morreram, assim, juntinhos um do outro.

Só quem perdeu entes queridos sabe dimensionar esta dor (se é que ela pode ser medida). Mas fica algo em quem já passou por isto. Por mais antagônico que possa parecer, depois do cansaço da amargura, fica uma brandura, na busca por agregar e ser solidário ao outro.

Só quem já amou e viveu uma perda irreparável sabe ser assim. Porque reconhece sua dor, no outro. E talvez seja esta a grande razão.

Isabel Ruiz, disse...

Você falou tudo, Valéria. É muito dificil aceitar a perda de um ente querido, mas não podemos negar que saimos dessas situações mais fortes e na maioria das vezes mais solidários.
Obrigada pela participação. Seus comentários são sempre muito inteligentes e complementam o texto.
Beijos
Bel

Lilian disse...

Olá querida amiga Isabel,

Parabéns pelo post.

O Texto é excelente , de qualidade e profundo.

Aceitar a peda de alguém a quem amamos é muito difícil, mas daí é quando devemos nos aproximar mais de Deus, pois somente Ele oferece o consolo e conforto dos quais precisamos.

Carinhoso e fraterno abraço,
Lilian